AS CARTAS QUE FICARÃO NA NOSSA HISTÓRIA

AS CARTAS QUE FICARÃO NA NOSSA HISTÓRIA

Ao rever os conteúdos do site antigo decidindo o que seria mantido neste, muitos textos e artigos foram arquivados no intuito de render o novo site mais leve e mais fluido, repensando inclusive conceitos que foram se transformando ao longo desses quase dezoito anos que se passaram desde que o primeiro site do Atelier foi ao ar. Mas algumas cartas de clientes foram inesquecíveis, e decidimos mantê-las aqui.

São incontáveis as mensagens de clientes recebidas nesses dezoito anos de atividade da vinícola, hoje faltaria espaço para todas. Decidi manter aqui as correspondências que mais me tocaram num momento em que tudo estava começando, a situação era difícil e o futuro uma incógnita. Quando o sucesso finalmente coroou nossos esforços com um prestígio e uma reputação que nunca cessaram de aumentar, e os elogios viraram rotina, podemos até ter nos acostumado com eles, pois tudo que é muito frequente termina por parecer normal, mas nunca deixamos que os elogios se sobrepusessem à autocrítica, ou arrefecessem a inquietude e a insatisfação que movem nossa vontade de fazer sempre mais e melhor. Não cruzamos os braços contentes com os frutos do prestígio alcançado, pelo contrário, seguimos inquietos, sempre acreditando que algo possa ser feito para que a próxima safra saia melhor que a anterior. Mas embora o aumento vertiginoso das atribuições tenha desviado o foco da nossa comunicação, e tenhamos deixado de compartilhar os elogios recebidos do Brasil inteiro, jamais esqueceremos a importância destas primeiras palavras de incentivo recebidas durante um começo que foi árduo, cheio de incertezas, quando não gozávamos do respeito nacional e internacional que hoje alcançamos. Nos primeiros anos de vida a videira precisa ser regada até que seu tronco se fortaleça e suas raízes desçam profundamente e encontrem, por si mesmas,  a água que necessitam.

Meu fraterno agradecimento a todos vocês que regaram nossa videira em seu momento mais frágil.

Marco Danielle
Setembro de 2022


Danielle San,

Você simplesmente encaminhou o melhor vinho já feito no Brasil. Fulvia 2009 é um divisor de águas, que incrível o que você conseguiu. Vou escrever formalmente sobre ele e você pode colocar no site, enfim, fazer o uso que achar melhor.
Impressive! Soberbo!
Muito obrigado.
Grande abraço!

Ed Motta
Rio de Janeiro, 10 de abril de 2011
(músico)


(…) Mas somente hoje, nesta madrugada sem sono, ao ler um texto teu, recolhi o verdadeiro sentimento resumo do que se apossou de mim ao degustar esses três primeiros vinhos – um enorme orgulho por um vinhateiro compatriota atingir tal nível. Escrevo para te agradecer pelos momentos especialíssimos que me proporcionaste e pelos outros que virão, pois é certo que conquistaste um humilde e profundo admirador neste criado amigo que se atreve a estender agradecimentos e cumprimentos pelo teu trabalho que, sem desdenhar do realizado por outros enólogos brasileiros, eu desde já reputo como ímpar na história do vinho brasileiro.

Abraços,

João A. Kerber
Florianópolis, 02 de julho de 2011
(Engenheiro, sócio fundador da RKS Engenharia)


“Desde que o Ed Motta comentou comigo sobre o Pinot Noir que o Marco Danielle havia feito, não tirava os vinhos do Atelier Tormentas de minha memória. Sempre surpreenderam muito, fico imaginando o que deveria ser esse tal Pinot que impressionou tanto o Jedi dos Borgonhas no Brasil. Para quem não sabe o Ed Motta é especialista na região francesa que produz seus vinhos com a uva Pinot Noir. Também meus preferidos. Hoje recebi duas amostras do Fulvia Pinot Noir – Atelier Tormentas – 2011. Vou perguntar uma coisa: O que é isso Marco Danielle?! Confessa pra nós que fizeste amor com as deusas antes de esmagar essa uva! Confessa! Não pode haver outra explicação sobre o líquido que está rodando em minha taça nesse exato momento a não ser fruto de um orgasmo pagão! Só pode. Os aromas são perfeitos e dignos do melhores borgonhas que já tomei. Notas de caramelo, frutas vermelhas e um leve “sous bois” que fascina. Tem chocolate na minha taça. Na boca é macio, álcool e acidez equilibrados. Perfeito.”

Rodrigo Machado
Porto Alegre, Novembro de 2012
(Publicitário de Showbusiness, Diretor de Produção, Sócio e crítico de vinhos do site independente “Notas de Degustação”)


 “Marco Danielle é um inovador, um inquieto, um naturalmente incomodado. Incomodados movem o mundo, é fato. Ele faz a seu modo o que acredita que deva ser feito. Quando os outros entram, ele sai. Quando os outros saem, ele revisita. Ele faz. Ele acontece. O mundo agradece. Marco, meu caro, parabéns pela sua insistência em ser o que é. Seus vinhos, os quais aprecio muito, são o resultado disso.”
Respondi que fazia o mínimo possível por meu país, enquanto cidadão brasileiro, ao que Adalberto Piotto retrucou:
“Colombo quis apenas mostrar ao velho que existia o novo. Rui Barbosa, só mostrar a grande Nação ao pequeno Brasil e Santos Dumont que ser brasileiro e rico poderia ser engenhoso e altruísta. Seu “mínimo possível ” e o barulho que faz com sua proposta de autenticidade faz apenas provocar uma grande transformação.” 

Adalberto Piotto
São Paulo, Abril de 2015
(Jornalista, economista, diretor de cinema em AF Piotto Produções)                                                                                   


Hoje, ao entardecer, abri um Âmbar: estou literalmente espantado com a cor, o aroma e a complexidade do sabor. Sobretudo, completamente apaixonado. É uma experiência inenarrável. Parabéns!
Me vem um verso atribuído a São João de la Cruz: 
“Ao entardecer, serás examinado em amor.” 
Foste examinado e passaste no exame. Este é um vinho de amor.
 

Luiz R. P. Targa
Porto Alegre, Dezembro de 2016
(Economista, Gastrônomo)


Caríssimo Marco Daniele
Seus vinhos têm sido um acontecimento. Um prazer enorme sempre. E uma surpresa também enorme para cada amigo que experimenta e fica pasmo de saber que são produzidos no Brasil. Isso sem contar o fato de serem vinhos naturais. Ao contrário da maioria dos vinhos, posso exagerar com tranquilidade que não tenho a dor de cabeça que, infelizmente, vinha se tornando cada vez mais comum com os vinhos cheios de química e sulfito, que andam por aí.
Parabéns!
Você é um gênio e um artista!

Eduardo Secchi Munhoz
São Paulo, Dezembro de 2016
(Advogado)


Bom dia, Marco!
Fico contente por não ser o único entusiasta de seus vinhos! Degustei o Âmbar anteontem e… estava magistral, monstruoso!
Me lembrou alguns brancos naturais do Loire que estão entre meus vinhos preferidos sobre a Terra. Quais sejam: o Chinon Blanc de Béatrice e Pascal Lambert (Les Chesnaies), o Le Jasnières de Christine de Mianville (Le Chant de Vigne) e os famosos Chenins naturais de Richard Leroy.
Ele me lembrou também os famosos Verdicchio naturais de La Distesa. Enfim, tudo isso para dizer que você está em muito boa companhia. Devo lhe dizer que se houver a oportunidade de vinificar outro branco desse tipo, por favor me faça saber!

Samuel Fournier
Hong Kong, Novembro de 2016
(Sommelier canadense do Djapa Restaurant, Hong Kong)


Meu caro Marco,

Obrigado pela lembrança, apesar de não ser muito comunicativo sempre lembro de você com muito carinho. 
Uns dias atrás lembrei muito de você e do seu maravilhoso Tormentas Premium 2006. Era o casamento de um amigo aqui em Varsóvia. Eu era padrinho e segundo a tradição na Polônia os padrinhos têm que ajudar a organizar as comemorações. Pra fazer bonito resolvi abrir meu último Tormentas Premium 2006 num jantar com os noivos. Mas antes de ir adiante deixa eu voltar um pouco no tempo pra contar outra história que envolve a minha outra garrafa do mesmo vinho. Nessas minhas idas e vindas entre Brasil e Europa, me deparei com a seguinte situação: Eu tinha um Tormentas 2006 na minha mala de mão e não podia embarcar com o vinho, já que havia despachado a mala, sem nada poder fazer a essa altura. Se não me engano, peguei um vôo de Porto Alegre para a Europa, mas que fazia escala em Guarulhos. Naquela época podia-se carregar vinhos na bagagem de mão em vôos internos, mas esqueci que de Guarulhos para a europa, só na bagagem despachada. Tentei comprar uma taça decente no aeroporto para degustar o vinho, mas não achei. Acabei pedindo um copo plástico numa lanchonete. Eu tinha pouco tempo. Empurrei a rolha e servi o vinho no copo de plástico mesmo. Isso foi por volta de 2012 se não me engano. A hora do meu embarque estava chegando, o tempo ia passando e o vinho demorava para abrir. Eu estava aflito, sem acreditar que aquele vinho que tanto queria degustar ia ter aquele fim. Acabou que o vinho começou a abrir. Lembro de ter ficado intrigado a medida que o vinho abria, lembrava um Amarone, cheio, ligeiramente quente, tinha fruta madura, notas minerais, menta. E logo quando o vinho estava começando a se revelar, chegou a hora de eu embarcar. Pensei em várias bobagens: levo a garrafa na mão e vou bebendo no bico até a entrada para os portões de embarque? De repente escondo a garrafa na mala de mão para passar pela entrada para os portões e consigo pelo menos mais tempo para beber a garrafa inteira escondido durante a longa fila até o raio X? Ainda na lanchonete, olhei pra mesa ao lado onde estava um casal. Interrompi a conversa deles e disse algo assim:

 – Desculpa, sei que pode parecer estranho, mas eu tenho aqui comigo provavelmente o melhor vinho já feito no Brasil e acho que seria um desperdício se eu jogar ele fora já que tenho que embarcar agora. Vou deixar ele aqui pra vocês. No início o casal achou que eu era um louco, mas acho que perceberam alguma sinceridade ou paixão na minha fala e acabaram aceitando a garrafa que deixei pra eles. Me senti aliviado por ter dado um fim de alguma forma digno pra aquele vinho, mas ainda assim fiquei com uma enorme curiosidade: como ele teria evoluído? O que ele ainda tinha pra mostrar? Como seria o fundo de taça? (mesmo sendo neste caso um fundo de copo de plástico de lanchonete). Fiquei com essa dúvida e essa história com o Tormentas Premium 2006 na minha cabeça desde então. 

De lá pra cá sempre flertei com minha última garrafa do Tormentas Premium 2006, olhando pra ela com algum ressentimento. Eu não havia dado àquela outra garrafa um tratamento digno. Havia degustado o vinho com pressa, numa lanchonete de aeroporto, num copo de plástico. Então acho que inconscientemente eu fui adiando o momento de abrir a bendita segunda garrafa, pois sempre me perguntava se era de fato a ocasião certa. Queria algo especial para redimir aquela minha cagada.

De lá pra cá sempre flertei com minha última garrafa do Tormentas Premium 2006, olhando pra ela com algum ressentimento. Eu não havia dado àquela outra garrafa um tratamento digno. Havia degustado o vinho com pressa, numa lanchonete de aeroporto, num copo de plástico. Então acho que inconscientemente eu fui adiando o momento de abrir a bendita segunda garrafa, pois sempre me perguntava se era de fato a ocasião certa. Queria algo especial para redimir aquela minha cagada.
Até que chegou o dia do casamento que mencionei no início da estória. Um dia especial, o casamento de um amigo brasileiro aqui em Varsóvia, e eu era padrinho. E o vinho estava completando 10 anos! Consegui finalmente me convencer de que era a hora certa… Após apresentar o vinho e narrar toda essa historia sobre minha primeira garrafa para os noivos, abri a garrafa e a minha primeira surpresa: um vinho de 10 anos que não mostrava nenhum sinal evidente de envelhecimento, sem aqueles aromas terciários que imediatamente revelam uma idade mais avançada. Robusto, estruturado, acidez, fruta e álcool perfeitamente equilibrados, continuava um pouco tímido no começo e só depois de uma boa hora de papo começou a se revelar. E aí o negócio ficou muito sério: carnudão, levemente adocicado, no nariz frutas muito maduras, frutas secas, terra, couro, ervas, menta, especiarias. Mas tudo com muita classe e sem excessos ou arestas. Uma boca absolutamente deliciosa, muito sedoso, muita fruta e muito equilibrado. Onde estavam os tais 14,8% de álcool? Tudo muito equilibrado junto a uma acidez e taninos deliciosos, e ainda bem presentes por sinal. Por horas o vinho continuou a melhorar. Não consegui acreditar como um vinho quase sem conservantes poderia estar naquele estado esplendoroso, e na minha leiga opinião, esse vinho ainda evolui bem por mais uns bons 15 anos, viu!  E acabei confirmando aquilo que havia especulado junto ao casal no aeroporto anos atrás, na minha opinião, o Tormentas Premium 2006 é de fato o melhor vinho tinto já produzido no Brasil. Brutal.

Luis Tauffer
Varsóvia, Novembro de 2016
(Executivo da Young & Rubicam Polônia, Diretor de Criação na BBDO Paris, Diretor de Criação na BBDO Moscow)