MINIMUS ANIMA 2007 POR PHILIPPE MÉVEL:

MINIMUS ANIMA 2007 POR PHILIPPE MÉVEL:

Cor rubi com reflexo marrom-avermelhado.

Nariz complexo, muita fruta negra em compota ou em aguardente (como ameixas no conhaque); toques de especiarias doces; algo animal (couro).

Paladar cheio, “guloso”, temia um álcool quente mas não aconteceu. Ao contrário, traz maciez, redondeza, “gordura” que envolve os taninos presentes mas maduros: nenhuma aspereza.

Esperava um vinho “rústico”, rude e talvez áspero, mas foi justo o contrário que aconteceu.

Com certeza este vinho traduz, espelha as uvas que entraram em sua elaboração. Pessoalmente gosto muito disto: capturar o espírito, a essência que está no interior de uvas diferenciadas por determinado momento e lugar.

Philippe Mével, francês, enólogo-chefe da Chandon do Brasil. 

Caxias do Sul, Março de 2010

NOTA DO REDATOR

Quase 13 anos se passaram desde que traduzi o texto acima para compartilhá-lo aqui. Um amigo de Caxias do Sul, Roberto Franceschini, na época membro de uma confraria da qual Mével fazia parte, certo dia me trouxe uma nota de degustação escrita por esse último, a punho, sobre um guardanapo de papel, durante um dos jantares da confraria. Considerei o gesto de ambos muito raro, muito fraterno, e decidi reproduzir a nota aqui. Revisando o material do site antigo que seria mantido no site novo, hoje cheguei a este artigo, ao qual acrescento o presente comentário. 

Tempos depois de ter recebido aquela avaliação escrita num guardanapo, encontrei Philippe Mével em torno de uma taça de espumante e uma agradável conversa, numa elegante varanda da Chandon, em Garibaldi.  Como tenho dito reiteradas vezes, o prestigio do Atelier no campo da pinot noir não teria sido possível sem empresas como a Chandon e outros grandes produtores brasileiros de espumantes, que difundiram essa uva em abundância por todo o Rio Grande do Sul. Philippe Mével teve papel fundamental nesse contexto ao coordenar a implantação dos vinhedos da Chandon em Encruzilhada do Sul – não apenas na propriedade da empresa francesa, mas em diversas pequenas propriedades de famílias de viticultores que plantaram pinot noir para atender à demanda da Chandon, sob a orientação e supervisão de Mével. Lembro que nossa conversa naquela tarde girou em torno dos fatores que diferenciam os resultados entre a pinot noir cultivada na Metade Sul do Rio Grande do Sul e aquela cultivada há séculos na França, sendo que Mével é especialista nessas duas regiões vitícolas do planeta. Na época desse encontro Fulvia Pinot Noir já fazia bastante sucesso entre os conhecedores de borgonhas, mas me intrigavam as razões pelas quais nossa acidez natural, apesar de estar entre as mais altas do Novo Mundo,  ainda não alcançava a acidez de alguns borgonhas.  Segundo Mével, o principal fator (em Encruzilhada do Sul) seria a superficialidade do lençol freático, que deixaria a água excessivamente disponível para a estrutura radicular das videiras. 

Anos depois desse encontro com Philippe Mével seguimos em busca dos melhores clones, melhores porta-enxertos, melhores terras e melhores climas para o cultivo de uvas pinot noir capazes de acumular ácidos orgânicos e polifenóis suficientemente concentrados, garantindo vinhos longevos, naturalmente estáveis, frescos e bem estruturados. Esperamos que nosso vinhedo em Campos de Cima da Serra atenda – em boa parte – a essa expectativa.

 

                                                                                                                           Marco Danielle

                                                                                                                      Setembro de 2022