INCURSÃO PELA BORGONHA PROFUNDA – PARTE I

INCURSÃO PELA BORGONHA PROFUNDA - PARTE I

Janeiro de 2010. Era o auge de um dos invernos mais rigorosos dos últimos cinquenta anos na França. Vale do Loire, Borgonha e Beaujolais soterrados pela neve. Paris, que raramente vê a neve, estava toda branca no dia subsequente à nossa chegada. No caminho entre a capital francesa e a Borgonha enfrentamos temperaturas negativas entre -15 e -20°C. Aulas suspensas, estradas interditadas, o silêncio dominando as planícies enquanto a neve caia mansamente e se acumulava, estendendo seu manto cinza sobre tudo.

O estupendo Château de Chambord assumira um ar ainda mais surreal sob a nevasca, era impossível seguir viagem sem parar para umas fotos. A luz do dia se extinguia muito cedo naquele período, e a 28 quilômetros dali ficava Soings-en-Sologne, onde a família Courtois nos esperava para conhecer o Domaine Les Cailloux du Paradis. Chegando perto da propriedade lebres saltitavam em todas as direções ao longo da suave estrada de chão até o vinhedo, onde se localizavam também a cantina e a casa da família de vignerons do Vale do Loire. 

Ao provar as delícias que Mme. Courtois preparara para o jantar, não foi difícil imaginar de onde vinha a matéria-prima para aquelas deliciosas rillettes de lièvre. Após um jantar acolhedor ao calor da lareira, à mesa de um dos mais radicais vinhateiros naturais da França, após muitos vinhos de um e de outro, levantamos para nos despedir e fomos intimados a restar e ficar para dormir no quarto de hóspedes da casa dos Courtois. Embaraçados com a situação, islados pela neve e intimidados pela temperatura de -15°C que fazia la fora naquela noite, não nos restou que aceitar o convite da acolhedora família. No dia seguinte percorremos as vinhas cobertas de neve, degustamos em barricas e partimos para um almoço em família em um vinhedo a três quilômetros dali, na casa de Julien, um dos filhos de Claude Courtois. Na vinícola de Julien provamos maravilhas com a casta Romorantin, que ficaram para sempre impressas na memória destes cadernos de viagem. 

De Soings-en-Sologne partiríamos ao encontro de Philippe Pacalet, em Beaune, para mais uma fraterna acolhida em torno da boa mesa e dos bons vinhos. Assim começara nossa peregrinação pela meca dos grandes vinhateiros – incursão que mudaria para sempre nossa forma de vinificar e de compreender o vinho.

Na segunda e última parte deste caderno de viagem o relato das visitas a Jean-Claude Rateau e Jean-Louis Trapet, na Borgonha, e Marcel Lapierre, no Beaujolais. Para continuar lendo, clique no link abaixo:

Na segunda e última parte deste caderno de viagem o relato das visitas a Jean-Claude Rateau e Jean-Louis Trapet, na Borgonha, e Marcel Lapierre, no Beaujolais. Para continuar lendo, clique no link abaixo:

INCURSÃO PELA BORGONHA PROFUNDA – PARTE II