Marco Danielle (Caxias do Sul, 1966)
Marco Danielle é um trocadilho do nome real Maurício Heller Dani, inversão criada por brincadeira que terminou virando meu nome comercial no mundo do vinho. Nascido na capital brasileira da vitivinicultura, sede da Festa Nacional da Uva, comecei muito cedo a valorizar, contemplar e fotografar a vasta paisagem de vinhedos que circundava a cidade – cuja história se confunde com a história do vinho brasileiro e a própria história da imigração italiana na Serra Gaúcha. O perfume das uvas americanas maduras pairava em torno da zona rural de Caxias do Sul nos meses de verão, ficando para sempre impresso em meu imaginário afetivo. Ainda adolescente conheci a Itália através do Instituto Veneto, despertando para a alegria dos jantares com famílias italianas e refeições à mesa do Instituto, sempre regados com vinhos caseiros. Nessa época me dedicava às artes visuais, ao texto e aos estudos superiores. Formei-me em Comunicação pela UFRGS e alguns anos depois mudei-me para a França, onde mantive um atelier de criação e uma editora de artes gráficas. Nos anos de Paris, fase áurea dos vins de garage, meu interesse pelo vinho aumentou, dando início a uma branda transição entre a arte e a vinicultura. Muitos dizem que essa transição não foi de todo concluída, que nunca será, que o vinho passou a ser um meio de expressão estética em substituição de outro, que o vinho não é arte mas, como a arte, expressa um tempo, um lugar, uma cultura. Talvez exista um pouco de verdade em cada uma dessas asserções.
Érica Mazziero (Garibaldi, 1990)
Filha, neta e bisneta de viticultores italianos da Serra Gaúcha, Érica nasceu na capital brasileira do espumante, comunidade onde o vinho está de tal forma e há tanto tempo enraizado na cultura que uma antiga vinícola da cidade é, curiosamente, a única empresa fora da França a reservar-se o direito legal de usar o termo “Champagne” em seus rótulos, pois já produzia e rotulava espumantes sob essa denominação antes de 1920, ano em que a região francesa registrou a marca. Érica cresceu entre os vinhedos da família, colheu muita uva para ajudar seus pais e começou a trabalhar no turno da noite aos dez anos de idade, ao voltar do colégio, em empresas de amigos. Além de estudar e trabalhar fora com apenas dez anos, ajudava sua mãe a cuidar da família de quatro filhos – dos quais é a mais jovem. Érica não viu no trabalho precoce um sacrifício, e sim uma oportunidade. Oportunidade que a fez diferente e forjou-lhe o caráter. Desde então passou pelo setor produtivo – e em seguida administrativo – de importantes empresas da região, sempre deixando saudades por sua gentileza, seriedade, capricho e obstinação pelo trabalho. Formada em Administração e Gestão Comercial pela FISUL, veio para colocar ordem na casa, sendo a responsável pelo setor comercial, financeiro, contábil e de CRM/ERP do Atelier. Esposa dedicada, profissional obstinada, adepta da escola filosófica estoicista, Érica foi um divisor de águas na História do Atelier. Uma grande companheira de trabalho, de vinho e de vida.
Palavra do vinhateiro
Nossa meta é trabalhar obstinadamente na elaboração de vinhos capazes de consolidar o conceito e reforçar a identidade da vinicultura artesanal brasileira no panorama mundial, colaborando para que o Brasil confirme não apenas sua posição como mais uma nação vitivinícola, mas como uma região capaz de produzir vinhos de exceção, com identidade própria e assinatura do território, dignos do respeito e admiração da comunidade internacional. Queremos produzir à altura do que se faz de melhor no mundo, sem, contudo, abrir mão da pureza de uma vinicultura a mais natural possível, excluindo correções e aditivos e usando as melhores uvas (e SO2 em dose mínima) como únicos ingredientes, no objetivo mais de contemplar que reinventar a natureza, buscando expressar terra e fruta com franca transparência e mínima intervenção. Seguindo esse preceito norteador do Projeto Tormentas queremos entregar ao apreciador vinhos mais autênticos e mais expressivos, inspirados em antigos valores de felicidade e bem-estar e orientados pelo respeito ao elo entre a natureza e o homem.
Marco Danielle
Setembro de 2005