GAMAY CRU 2022
NOTA DO VINHATEIRO
Gamay é uma casta muito cultuada no meio do vinho natural. O Beaujolais, seu berço, é também o epicentro do vinho natural francês, portanto, é normal associar vinhos de baixa intervenção à casta gamay. Famosos precursores do vinho natural francês são do Beaujolais – principal região produtora de vinhos da variedade gamay.
Os gamays são, em geral, vinhos alegres, redondos, frutados, prontos para o consumo poucas semanas após a vinificação. Leveza, fruta viva e jovialidade são características muito apreciadas por entusiastas de vinhos de baixa intervenção, para os quais a gamay – junto à pinot noir – são as variedades preferidas. Graças a essa alegria e frescor, os gamays são também os vinhos dos bistrôs parisienses por excelência, onde às vezes os “nouveaux” são entregues em barricas, sendo servidos diretamente das torneiras.
Originária da Borgonha, a gamay é uma das castas francesas que mais se aproximam à pinot noir em delicadeza, chegando (em alguns vinhedos e produtores) a produzir vinhos que se confundem com os borgonhas. Como a pinot, a gamay é uma das variedades mais mutantes, com uma grande diversidade de clones gerando desde vinhos delicados e florais, de cor pálida e clara, a vinhos negros tintureiros, de um vermelho quase impenetrável, gordos e frutados, tendendo a notas compota e geleia nas colheitas muito maduras – que estão virando tendência nos últimos tempos. Uma das principais diferenças entre os vinhos provenientes dessas duas uvas tão próximas é o matiz vermelho mais violáceo e mais escuro da gamay, e sua tendência a tintos mais macios, menos tânicos e menos herbáceos. Enquanto a pinot gera vinhos mais austeros, mais fenólicos, mais duros na fase jovem, a gamay produz tintos alegres e quase imediatos, podendo ir à taça do apreciador dois meses depois da vindima – conforme a opção de vinificação e estilo de vinho almejado (ou permitido pela AOC, no caso do beaujolais nouveaux franceses). Gamay é a uva rainha dos vinhos “glu-glus”, tão apreciados pelos entusiastas do vinho natural. Enquanto a virtude maior da pinot noir está na elegância, a virtude maior da gamay está na alegria. Procuramos colher nossa gamay mais cedo para resguardar a acidez e o frescor da fruta viva, evitando as supermaturações da moda. Queremos elaborar gamays equilibrados, gastronômicos, de estilo europeu clássico, onde a elegância se expresse na leveza e harmonia entre os elementos, o todo privilegiando sempre o frescor, em detrimento da potência. Além da colheita em ponto de maturação ideal, o plano de vinificação dos nossos gamays prevê vinhos mais estruturados: alegres, mas consistentes e longevos.
A exemplo da nebbiolo, em que barolo é apenas um dos estilos de vinho possíveis, determinados pelas regulamentações das apelações de origem, a gamay também pode produzir vinhos estruturados – além dos leves e festivos “nouveaux”, pouco extraídos, comercializados dois meses após a colheita. Nos gamays do Beaujolais o estilo dos vinhos deve se submeter às regras da AOC onde o vinhedo (ou “cru”) se encontra. Como não temos restrições nesse sentido, nosso gamay segue o protocolo de vinificação tradicional semi-carbônica da Borgonha, o mesmo método usado para nossos pinots. O perfil de gamay resultante dessa escolha lembra muito o estilo dos crus do Beaujolais: vinhos mais estruturados e, consequentemente, mais apropriados para o envelhecimento.
Mas atenção, enquanto “cru” em francês é sinônimo de vinhedo – ou conjunto de vinhedos de reconhecida qualidade, identificados por uma mesma denominação de origem -, o sentido de “cru” em nosso “Gamay Cru” é outro. Nosso “cru” é uma metáfora para os vinhos que não passam por barricas, fazendo analogia à dicotomia cru/cozido: um alimento consumido cru é um alimento mais puro, menos processado que um alimento cozido. De mesma sorte é o vinho que não teve contato com madeira: é um vinho mais “cru”, mais próximo da fruta pura, menos elaborado. Esse é o conceito.
Nosso Gamay Cru 2022, primeiro gamay da história do Atelier, surge após provarmos centenas de gamays franceses nos últimos anos, comparando produtores, vinhedos, clones, opções de vinificação, até chegar ao estilo de vinho mais condizente com a identidade do Atelier. Usamos três diferentes clones para chegar ao gamay que melhor representasse, em solo brasileiro, a tipicidade presente em seus mais renomados equivalentes franceses, enfatizando o matiz violáceo e o bouquet de frutas vermelhas que fazem o encanto da casta.
A gamay não é uma variedade muito propagada pelo mundo, embora seja bastante valorizada entre os amantes dos vinhos franceses de terroir. No Brasil são raros os vinhedos de gamay, talvez possamos contá-los nos dedos de uma mão. E, ao menos que se tenha notícia, apenas um deles possui clones capazes de gerar gamays tão intensos e tão frutados: o vinhedo do nosso Gamay Cru 2022, na Campanha Gaúcha. Estamos lhes entregando, portanto, um vinho bastante exclusivo.
FICHA TÉCNICA
Localidade do vinhedo: Candiota – RS
Região do vinhedo: Campanha Gaúcha – Brasil
Altitude: 220 m
Uva: Gamay (Beaujolais)
Teor Alcoólico: 12,4%
Quantidade produzida: 2900 garrafas
Colheita: manual em caixas de 15 Kg
Desengace: fermentação semi-carbônica dos cachos inteiros
Quebra das bagas: pisa humana
Controle de temperatura em fermentação: não
SO2 adicionado: sim
Tempo em barrica: sem passagem por barricas
SO2 total detectado após o engarrafamento: 6 mg/L
SO2 total permitido por lei no Brasil: 300 mg/L